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Mar 27, 2024

Modelos – e lama – na Amazônia

Características|Janeiro a fevereiro de 2011

Os alunos enfrentam o destino da floresta tropical num clima em mudança.

[extra: Extra]

Veja um vídeo de estudiosos de Harvard trabalhando na Amazônia e algumas das plantas e animais que encontraram

Robert Newell subiu com cuidado, mão após mão, pela lateral de uma torre meteorológica de 14 andares no meio da selva amazônica. Uma polia no topo estava presa. Por mais de uma hora ele subiu e desceu a estrutura metálica, instalando tubos plásticos flexíveis em alturas de 5, 10, 20, 30 e 40 metros – parte dos preparativos para um experimento que começaria a coletar amostras de carbono atmosférico. dióxido de carbono (CO2) e coleta de dados meteorológicos naquela noite. Ele e alguns dos outros alunos matriculados em Ciências da Terra e Planetárias 74 (“Experiências de Campo”) deveriam ficar acordados a noite toda para fazer o trabalho.

O plano era monitorar a respiração da floresta, usando um balão meteorológico para medir o CO2 e registrar as condições meteorológicas. Mas, numa série de contratempos, um analisador leve para medir o gás não conseguiu passar pela alfândega brasileira e o seu substituto – uma versão mais antiga e mais pesada do equipamento – pesava demasiado para ser levantado pelo balão meteorológico. Daí a necessidade de mover a parte de amostragem de gás do experimento para a torre enquanto se lança o balão e sua instrumentação meteorológica a partir da estrada próxima. Newell, um júnior especializado em biologia evolutiva (que naquele momento talvez estivesse pensando por que os humanos não se adaptaram melhor à escalada), concentrou-se na polia, que era fundamental para elevar o tubo às alturas corretas na torre. Sob o sol equatorial do meio-dia, ele já estava ligeiramente desidratado e seus braços estavam cansados ​​de tanto tempo agarrados à estrutura esquelética de metal da torre. Ele procedeu com cuidado, prendendo e soltando alternadamente um par de mosquetões presos ao seu arnês, como havia sido treinado para fazer. Finalmente ele alcançou a polia e soltou a corda. O ar acima da copa da floresta tropical estava parado, mas, como ele lembrou recentemente, “a torre tremia um pouco sempre que eu me movia”.

Newell e seus colegas estudantes – ao todo, dois estudantes de graduação e 18 estudantes de pós-graduação de diversas universidades americanas e brasileiras, trabalhando com cientistas de ambos os países – estavam vivenciando em primeira mão os difíceis desafios práticos, grandes e pequenos, de fazer ciência na área. . A sua investigação, entretanto, demonstrava como acertar nas pequenas coisas pode ter um impacto profundo num enorme problema: compreender como as alterações climáticas globais irão afectar a Amazónia.

Chegar à estação de pesquisa – na bacia amazônica central, a cerca de duas horas de carro da cidade de Manaus – não foi fácil. Onze dias antes, depois que complicações com o visto o forçaram a abandonar um voo, Newell voou de Denver para Atlanta para se encontrar com outros estudantes e instrutores americanos no curso de campo. De Atlanta, voaram para Manaus, uma cidade de dois milhões de habitantes com poucas estradas que a ligavam ao resto do Brasil – a única autoestrada ininterrupta leva ao norte até Caracas, na Venezuela, a mais de mil quilómetros de distância. A maneira prática de entrar ou sair é de barco – uma viagem de 1.400 quilômetros pelo rio Amazonas – ou de avião. Os estudantes desembarcaram depois da meia-noite, sacando reais nos caixas eletrônicos dos aeroportos para que pudessem comprar mosquiteiros e redes (redes, pronunciadas “hedgies” em português do Brasil) no mercado local no dia seguinte.

Uma vez na selva, os estudantes não precisariam de dinheiro. De Manaus, o grupo foi conduzido por cerca de 30 quilômetros até o acampamento base de Ducke, uma reserva de pesquisa na floresta tropical administrada por uma agência do governo brasileiro. Lá eles passaram uma semana prática aprendendo métodos de pesquisa de campo: por exemplo, como operar os instrumentos científicos que coletam dados sobre as complexidades das trocas gasosas entre as plantas, o solo e a atmosfera. As barreiras linguísticas não dificultaram muito a comunicação: os americanos aprenderam os rudimentos do português brasileiro, enquanto os seus anfitriões tiveram a oportunidade de praticar o inglês.

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